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Hora de a alma congelar - Capítulo 1 - Castle Bravo

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Hora de a alma congelar - Capítulo 1 - Castle Bravo Empty Hora de a alma congelar - Capítulo 1 - Castle Bravo

Mensagem por infernosword Sáb maio 21, 2016 5:06 am

1 - Castle Bravo

Ouvia-se dois passos, primeiro os dela e depois os meus, em sincronia, a distância de aproximadamente 5 metros. Passos para o absurdo. Não pude deixar de notar o desenho que os cabelos loiros dela formavam em suas costas, enquanto atravessava o tapete vermelho do corredor que nos levava ao elevador. Eram cabelos bem feitos, que faziam jus ao resto do seu corpo. Também faziam jus ao seu caráter. Ambos perigosos, como de costume.
- Eles mal sabem o que os espera... - pensei, enquanto ela apertava o botão de descida do elevador, que se apresentou logo no momento seguinte.

Ela entrou no elevador, virou-se para fora do mesmo e começou a me perseguir com os seus olhos azul turquesa, sem se esforçar para impedir que a porta do elevador se fechasse. Simultaneamente, desviei do olhar intenso e apressei o passo para pegar o elevador. O elevador, sem dar sinais de que iria se mover, permitiu a minha entrada. Um tanto triunfante, me postei na frente dela e a encarei, mesmo sabendo que era só para lhe dar ainda mais confiança, para que se sentisse desafiada. O olhar dela ainda batia em mim com a sensação de uma flechada no peito, da qual eu, hoje mais experiente, aprendi a amortecer com serenidade ou, ao menos, fingir que amortecia. O momento era meu:
- Yulia, eu sei que estamos na merda...
- Fale por você... - Disse ela, desviando o olhar.
- ... mas agora nós vamos ter que confiar um no outro. - Sempre que ela desviava o olhar, era hora ocupar o espaço. Já havia pecado por isso uma vez e sabia de antemão todo o protocolo.
- Então - continuei - estou contando que você seja mais profissional daqui em diante e espero... - a grade do elevador se fecha, iniciando seu movimento para baixo. Antes que pudesse retomar a fala, Yulia me corta:
- Pode contar com isso. É o meu profissionalismo que vai nos manter vivos quando formos para lá.
- Assim espero... - disse, querendo soar vencedor, mas visivelmente derrotado, não só por Yulia, mas pelo frio e pelo cansaço.

Antes que a chuva se tornasse neve, o elevador abriu em nosso destino, revelando o saguão de entrada do hotel e a fachada que dava para rua, atualmente alagada. Carros passavam em baixa velocidade em direção à Praça do Líder e me faziam lembrar dos tempos muito antes de tudo isso; da saída da universidade; da aspiração de um futuro brilhante; da sensação de segurança; Penso em tudo isso enquanto ando até a porta giratória do hotel, seguido de Yulia, que deixa de ser meu foco por alguns momentos.
A calçada cinza opaco não refletia nada e ilustrava minha mente naquela noite. Embora o pensamento estivesse longe, nada de produtivo vinha, ainda mais depois do encontro com o major no hotel. Como sempre, ordens claras e diretas. O fato de Yulia estar envolvida também me fazia refletir.
- Preciso pensar um pouco Yulia... um tempo para me recompor...
Olhava para o telhado das construções que seguiam a linha soviética em suas arquiteturas. Meu olhar, contudo, era sem foco e sem pretensão.
- O trem só sai às duas. Aceita um café? - Disse Yulia, sem soar amigável.
- Um café que eu vou pagar?
- Não. Dois cafés que você vai pagar.
- Hum... - um sorriso gelado veio em ambos os rostos. - Nesse caso - continuei - eu prefiro tomar um chá.

O chinesinho trazia em uma bandeja duas xícaras de chá. O local era uma mistura de diner norte-americano com templo chinês. Dividíamos o local com uma velha singular de cabelo estranho, que mais tarde percebi ser um homem vestido de mulher e que provavelmente estava se prostituindo nos arredores do café. Era meia-noite e eu olhava discretamente para Yulia, que saboreava lentamente o chá quente trazido pelo chinesinho, de olhos fechados.
- Você sabe, nada disso aqui vai ser fácil. Na verdade é a coisa mais difícil que eu já fiz na vida - disse, sendo o mais firme possível, sem levantar a voz.
- Por isso é que estou aqui. Pra trazer a segurança que nós precisamos. Pra termos pelos menos alguém de coragem nessa viagem toda...
- Merda Yulia! - bato na mesa e a velha prostituta nos encara, assustada - Não é disso que se trata... - terminei, agora me acalmando.
- Bom, até agora, a única coisa que eu vi foi você ser um bundão.
- Cauteloso, Yulia. Além do mais, eu já superei aquilo, ao contrário de você - disse, num tom de superioridade. Yulia parecia desestabilizada.
- Há! Cauteloso, tá bom! O fato é que estamos aqui, agora e juntos e que nossa missão é essa.
- Exato.
- Exato!
- E é por isso que eu preciso pensar um pouco. Pelo menos por uma hora.
- Você vai ter bastante tempo para pensar no trem - Yulia, que mostrava um desprezo na face, preferiu beber mais um pouco de chá ao continuar com a questão.
- Aliás... - sorri com sarcasmo -  nós vamos no mesmo vagão?
- Deixe de ser infantil! E vamos logo com isso!
O chá era bom. Aquele foi o melhor momento da noite.

- Duas horas, para Semipalatinsk! - o homem do trem já recolhia o que parecia ser as últimas passagens.
- Nós estamos no vagão 17. Um pouco mais para a esquerda... - Yulia procurava as passagens e quando as achou, fez questão de me entregar toda amassada.
- Aqui está, senhor. - entreguei a passagem amassada ao homem.
- Vagão 17 senhor. Oito horas de viagem.
Entrei no trem e lá fiz o meu próprio caminho, sem olhar para Yulia, que eu tinha certeza que me acompanhava. Na verdade, eu queria mostrar para ela que eu estava longe de ser um bundão. Contudo, não tinha tempo para todas essas infantilidades. Tínhamos problemas mais sérios para resolver do que essas pequenas coisas. Na minha cabeça era tudo tão confuso, tão intenso, tão dinâmico. Seria tudo muito mais fácil se não houvessem problemas, se eu tivesse uma garrafa de vodka russa ou se o grande lance fosse apenas aguentar Yulia me enchendo o saco. Porém, esse tipo de projeção nunca fez parte da minha estratégia. As pessoas me reconhecem pelo pensamento analítico e lateral e pela resolução circular dos problemas que enfrento. O homem das soluções impossíveis. Mesmo assim, eu era apenas um homem na terra de cientistas e intelectuais que se encontravam em Semipalatinsk. Um homem com habilidades exóticas, entretanto, se tratando de homens de intelecto.

Sentei-me no sofá-cama do vagão 17, que parecia que seria o meu único companheiro naquela viagem. Minhas mãos cobriam minha face. Yulia, sem falar mais nada, estava de pé, pronta para se despir e colocar o pijama. Meu foco, contudo, passava longe dela. Aos poucos, senti a inércia do trem me puxar e a fazer rangidos de partida. Logo, o som desesperado do atrito entre roda e trilho, ambos à temperaturas congelantes, soa em uníssono com o apito de partida.
- Rumo à nova cidade! - digo, sem obter resposta.
Removo as mãos da cara, já para não esfregar ainda mais os olhos. Isso me fazia mal.
Yulia já se encontrava deitada, ocupando todo o sofá-cama à minha frente, de costas para mim. Chegar perto seria um convite para a própria morte. Me resta apenas desligar a luz do vagão, me acomodar melhor e olhar para o breu lá fora. Muito de mim já havia se perdido naquela noite, tanto pelo reencontro com Yulia, que já ficara evidente que me tinha abatido, quanto ao encontro com o major e suas ordens surreais.
- Boa noite, Yu...
- IGOR! - disse Yulia, num tom em que ficou claro que ela desejava silêncio.
A noite contudo não era boa.

À medida em que o sono vinha junto com o balanço do trem, vinham também as dúvidas, seguidas das aflições, sendo essas as que me tiravam o sono. Acredito que Yulia também estava acordada. Não era possível que ela estivesse dormindo. Não depois do que nós ouvimos do alto escalão. Eram necessárias ações imediatas, até mesmo para um homem ponderado como eu. Extremas, eu diria. Pensava em tudo aquilo ao mesmo tempo, olhando novamente para o breu do caminho. Olhava para o distante, para o incerto, para o talvez. Assim, como a noite toda, o meu pensamento se perdia e ia longe. Longe na imensidão da Rússia.


Última edição por infernosword em Qua Jun 01, 2016 10:30 pm, editado 2 vez(es)
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Mensagem por Eder Seg maio 23, 2016 10:35 am

Bacana o primeiro capítulo. Aguardando os próximos.
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Mensagem por infernosword Seg maio 23, 2016 4:45 pm

Já tô bolando um pra sexta ou sábado.
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Mensagem por Filme Sentimental Sex Jun 03, 2016 2:46 pm

Quando que sai o próximo capítulo mesmo?
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Mensagem por infernosword Sex Jun 03, 2016 3:58 pm

Eu queria ter lançado ele no fim de semana passado, mas não ficou legal, então estou reescrevendo esse capítulo, porque ele é bem importante. Eu quero lançar ele amanhã.
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