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Hora de a alma congelar - Capítulo 2 - Lógica interna

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Hora de a alma congelar - Capítulo 2 - Lógica interna Empty Hora de a alma congelar - Capítulo 2 - Lógica interna

Mensagem por infernosword Ter Jun 07, 2016 6:09 am

2 - Lógica interna


Meu ressentimento é irônico.
Do mesmo modo que me faz viver, me faz morrer.
Do mesmo modo que me faz perseguir meus desejos, me expõe ao perigo.
Não há nada mais bonito do que o olhar de ódio estampado na face do derrotado.
Do humilhado.
Olhar da transformação.
Mudança de plano, estamos todos morrendo.
Ressentimento. Ódio. Motivação.


- Que bom que está aqui, Igor. - disse o militar do alto escalão, afastando uma cadeira - Sente-se.
O quarto do hotel era apertado, porém aconchegante. Era também charmosamente discreto. Não era para menos: o major era um conhecido homem de bastidores, daqueles que resolvem os problemas e fazem acontecer. Sentei-me à frente dele, sem dar muita atenção à mulher loira que estava sentada logo ao lado, um pouco mais afastada. Atrás da mesa, o major se sentou numa cadeira, aparentemente sem conforto nenhum, e acendeu seu charuto.
- Igor, creio que já conheça a agente Yulia.

Sim, eu a conhecia. Yulia Vladimirovina Ilyich. Subprocuradora do Comitê de Assuntos Militares e Interesses Nacionais. Graduada em Ciências Políticas pela Universidade Estadual de Novosibirsk, erradicada em Moscow pela Agência de Segurança Civil Nacional. Esteve em operações em diversos países do globo, como Turquia, Dinamarca e mais recentemente na operação Escorpião, realizada em Granada, na Espanha, onde foi a principal comandante. Loira, olhos azul-turquesa, 1,70m, 52 Kg, 32 anos, rosto delicado, esbelta e bem vestida. Uma mulher serena e de classe. Praticou ginástica artística até os 16 anos de idade, o que lhe garantiu a flexibilidade digna de uma espiã secreta, além da boa saúde, com excessão do vício em cigarros. Péssima de conversa, boa de cama. Atualmente solteira. Isso, contudo, é culpa minha.

- Senhores, como sabem, nossa nação enfrenta enorme turbulência desde a grande cisão. - prosseguiu o major, altivo - Isso não é nenhuma novidade. Todavia, nosso serviço de interesses nacionais detectou, por meio da equipe da agente Yulia, há algumas semanas atrás, uma possível ameaça à nossa gloriosa terra. Algo que rompe os limites do homem.
- Do que se trata senhor? - indaguei, finalmente deixando o pensamento se focar nas palavras do major.
- Mísseis de curto alcance e grande poder de destruição...
- Com todo o respeito senhor - interrompi - mas já é sabido que tal poder está em posse dos nossos inimigos há um bom tempo. E em nosso também. Eu mesmo posso lhe garantir que temos esse tipo de tecnologia sendo desenvolvida em algum galpão de qualquer cidade de médio porte do oeste.
- Isso é diferente, Igor - disse o major, em tom de preocupação.
- Diferente como? - Yulia continuava fitando o major, atenta, sem fazer contato visual.
- Trata-se da química da morte. Como eu lhe disse, algo que rompe os limites do homem. Você sabe, o homem moderno é só uma versão aprimorada do neandertal. Um neandertal com explosivos, por assim dizer. Acontece que nossos inimigos dispõem de um grande arsenal desses explosivos. E como se não bastasse, eles ainda criaram outro tão poderoso, que engloba todo poder de destruição que eles possuem em apenas um único dispositivo não muito maior do que esse quarto. Vou lhes mostrar.
O homem então pegou uma pasta debaixo da mesa, muito semelhante à um arquivo de relatório. Nela haviam várias fotografias em escala de cinza, que foram tiradas da pasta uma a uma pelo oficial e colocadas na mesa, viradas para mim. Uma primeira foto me chamou a atenção. Tratava-se de um sítio abandonado, uma casa de madeira caindo aos pedaços, algumas árvores e mais alguns objetos não identificáveis pela qualidade da imagem. Parecia um lugar vazio e pacato.
- Essa é de um sítio em Vallenville. Provavelmente você não vai encontrá-lo no mapa. Foi o lugarejo escolhido para teste da arma. - disse o major. - Essa outra aqui é do armamento usado. A única que temos. - o major então me mostrou outra fotografia.
A imagem mostrava um cilindro de metal, com uma ponta conífera em uma das extremidades e com o que pareciam serem asas na outra extremidade, juntamente a uma turbina. Tratava-se de um dispositivo equivalente a dois homens em sua altura, por uns cinco em seu comprimento. Próximos ao objeto, posavam dois homens sorridentes, um vestindo um jaleco de cientista e outro usando um uniforme da aeronáutica.
- Tem essa daqui...
A nova foto mostrava um clarão em forma de cone invertido, ou melhor, uma secção de um cone, com uma base larga e ponta mais ainda. O clarão partia de um branco vívido, que dava a noção da intensidade da explosão, para um cinza escuro, proveniente da fumaça e dos resíduos provocadas por ela.
- e essa outra aqui.
A última imagem não era uma fotografia, mas um mapa cartográfico. Notava-se pelas curvas de nível que o mapa descrevia. Uma curva em particular se mostrava interessante no meio de tantas outras. Ela era descrita com um tracejado vermelho e com a sigla aVNS.
- Senhor - disse em tom de pergunta - a linha vermelha...
- Trata-se do raio de impacto significativo do explosivo.
- Impossível...
- À partir de hoje, nada poderá ser impossível, Igor.

- Igor! Igor! - sinto a palma de uma mão gelada tocar meu rosto.
- O... o quê? - digo, enquanto acordo e percebo que adormeci sentado e com a cara na janela.
- Vamos, acorde! Já estamos quase chegando. - Yulia estava de pé, na minha frente.
- Yulia, que horas são?
- Já são quase dez. Estamos quase chegando.
- Mas eu nem dormi direito... - o sono me parecia mais forte agora que fora acordado.
- Eu sei, a noite não foi boa para mim também. E eu não tenho boas notícias. É melhor ir se acostumando, porque enquanto isso não acabar, nós vamos ter que nos virar desse jeito, dormindo quando podemos e se podemos.
- Yulia, porque sempre acaba com você cuidando de mim?
- Você é ridículo...
Yulia então se dirigiu à porta do vagão que dava em direção ao corredor e então, a abriu.
- Volto em cinco minutos - disse, já no corredor - Se arrume e esteja pronto.
Em seguida, a porta se fechou, me deixando só com meus pensamentos. O mau humor de ter dormido mal abateu-se sobre mim.
- Prefiro morrer...
Eu sabia que toda essa história era uma grande de uma merda. Eu sabia que havia um algo mais que nem eu, nem Yulia nos permitimos perceber. Isso contudo, era algo confuso, do qual eu ainda não tive tempo para pensar. Ainda mais numa manhã ruim em um trem indo para lugar nenhum. Passei os próximos minutos silenciando as vozes na minha cabeça e tentando me aprontar para quando Yulia voltasse. O pensamento, porém, me arrastava para o encontro da noite anterior.

23 Km era o que indicava o mapa cartográfico. Não havia nada na face da Terra que tivesse tal poder de destruição por metro quadrado. Nem na teoria. Era sabido do homem que alguns explosivos poderiam ser inseridos dentro de outros, para que assim gerassem um detonador multiestágios, permitindo o poder de uma bomba liberar energia de ativação suficiente para fissar outra, mais poderosa. Dinamites, na maioria dos casos. Mas nunca algo próximo de tal magnitude descrita pelo documento.
Eu esperava que houvesse algo errado, seja com as informações do major, sejam com os cálculos do mapa.
- Senhor, temo que uma farça ou desinformação chegou de alguma forma ao nosso...
- As fontes são confiáveis Igor. Além da equipe de Yulia, ainda houveram mais dois relatórios de equipes de alta confiança, fora as provas físicas.
- Provas físicas?
- Sim, detectamos altos níveis de radiação no campo de testes. Fizemos as medições com duas sondas clandestinas. Os níveis superam em 1400% a radiação natural em ambas e não há nenhuma usina nuclear no local. Isso foi feito com a mão do homem, Igor. E, a julgar pela cratera que não estava ali há quatro meses atrás, podemos deduzir que não se trata de um evento natural.
- Nem um meteoro? - argumentei, sabendo que não era, nem de longe, um meteoro.
- Não. Como você sabe, essa cratera não é típica do impacto de meteoros. Note a ausência de crateras laterais, periféricas ou auxiliares. Note também a profundidade da cratera. Ela não é rasa como uma cratera natural, mas funda e concentrada.
O major continuou falando mais alguns minutos, dessa vez mais para Yulia do que para mim. Eu estava impressionado. Primeiro, com o conhecimento do major em espaços topográficos. Segundo, com os fatos estarrecedores que realmente me faziam acreditar que aquilo era obra de alguma arma secreta. Logo, a preocupação me veio à mente. A nação que dominasse tal poder de destruição poderia por o mundo de joelhos e impor suas vontades. Eu havia então matado a charada. O major provavelmente iria nos pedir para participar de algum plano de pesquisa e desenvolvimento dessa mesma arma. Eu, contudo, teria pouco a oferecer nesse caso. Me resguardo em apenas pegar a foto da explosão em cone e esperar pelas infames ordens que, a principio, rejeitaria.
- Essa explosão tem quase 10 km de altura Igor. Destruiu tudo o que havia num raio de 50. E danificou muito num raio de 100. Trata-se da fúria do Diabo em plena forma física, o Terror na Terra, a química da morte.
- Como sabem que se trata de elementos quimicos?
- Além do fato de que todos os explosivos possuem uma química característica? Simples. Houveram massivos transportes de Lítio e Urânio para essa região, detectados pelo menos duas vezes esse ano por nossas sondas. Além disso, começamos nós mesmos a fazer testes de enriquecimento de Urânio e, consequentemente, nossos primeiros explosivos com base nessa tecnologia. Fizemos algumas explosões também, as maiores que já produzimos. Essas, contudo, não chegam nem a uma fração dessa das imagens.
- Então não estamos tão atrás no que se trata da tecnologia, correto?
- Ainda estamos atrás. Além do estado de emergência, ainda nos falta a tecnologia de miniaturização de todo o poder destrutivo em um único dispositivo, conhecida como a Luz do Arcanjo.
- Luz do Arcanjo?
- É aí que vocês entram. Montamos um sítio de testes em nosso posto em Semipalatinsk. Lá reunimos vários dos nossos melhores cérebros para a resolução dessa questão. Os testes que lhe disse foram realizados lá, logo que recebemos as informações. É para lá que vocês vão, ainda essa noite. Tomem aqui suas passagens e dirijam-se para a estação o quanto antes.
- Como assim? Agora? - a ordem me pegou desprevenido. Não havia pensado nem na possibilidade mais remota de deixar a cidade nessa noite. Ainda mais de forma tão imediata.
- Lá vocês se encontrarão com o major Krosenkoff e tudo o que precisarão. Ele dará novas diretrizes de como deverão prosseguir.
- Senhor...
- Plata o plomo, Igor. Yulia, por favor! Leve nosso jovem até o seu destino. A nação conta com vocês. Serão muito bem recompensados quando voltarem.
Yulia se levantou e andou até a porta do quarto do hotel. Eu a segui, desconcertado. De pano de fundo, jazia a imagem de um oficial se encostando na cadeira não muito confortável e baforando o seu charuto, tudo por detrás da mesa. Um homem só, em seu aposento.

Passaram-se os cinco minutos e Yulia estava de volta, agitada.
- Conversei com o maquinista. Seremos os primeiros a desembarcar, para evitar o fluxo de passageiros.
- Que ótimo. - disse, sem muito interesse, enquanto bebia um chá morno e ruim.
Foram mais alguns minutos para me despertar de verdade e botar o cérebro para funcionar. Passado mais algum tempo, eu, e todos os passageiros de trem, ouvimos o ranger dos freios do trem, igualmente desesperados quando na partida, nos dizendo que a viagem chegara ao fim. Oito horas de viagem, como haviam nos anunciado.
- Vamos, Igor. - Yulia então me pegou pelo braço, algo que não fazia há um bom tempo, e me arrastou para fora do vagão. Não me preocupei com os pertences porque, de fato, não havíamos trazido nada.
- Vamos sair pela parte de trás do trem. Pelo que me informaram, já estão nos esperando com um transporte.
Ao entrar no último vagão, que era destinado à tripulação, e que estava vazio, senti o trem dar o solavanco final de sua parada. Yulia abriu a última porta, que possuía uma janela de vidro. Ela então abriu a grade de proteção e me indicou a escada de descida. Vim abaixo e logo em seguida, desceu Yulia. Em questão de minutos, estacionou perto de nós um veículo de quatro rodas adequado às neves e ao clima que se abatia sobre o Cazaquistão, do qual desceu um homem fardado.
- Agente Yulia?
- Isso.
- Queiram me acompanhar. O major os aguarda.
O veículo era veloz e me permitira visualizar, de maneira rápida, o panorama cazaque que se oferecera aos meus olhos. Nunca estivera aqui, mas me disseram que se tratava de uma região semiárida. Não no inverno. Só o que via era neve nas quatro direções. E claro, a estufa dos cientistas, digna das bases da Antártica, que se formava pequena no horizonte e aumentava gradativamente de tamanho à medida em que nos aproximávamos. Nenhuma palavra foi dita dentro do veículo, todavia.
Ao chegarmos ao local, o homem fardado nos indicou a porta de acesso. Ele ficou do lado de fora, nos vigiando, enquanto entrávamos e, em seguida, entrou no veículo, desaparecendo no branco do horizonte. Por dentro a estufa me parecia muito maior do que por fora. Haviam alguns cientistas andando para os lados e um oficial parado olhando para nós.
- Major Krosenkoff, eu presumo - disse, num tom de informalidade me referindo à um homem muito formal, na esperança de se obter algum carisma.
- Às suas ordens, senhores. Eu estava à espera de vocês. Venham, eu tenho algo para lhes mostrar.
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